terça-feira, 4 de julho de 2017

O HOMEM QUE COPIAVA, SEM ASPAS.



O HOMEM QUE COPIAVA, SEM ASPAS.

Custaram 50 anos da minha vida para eu entender que eu era copiado em tudo que eu fazia, por um bando de intelectuais, filósofos, pensadores, etc..., e tudo sem eu saber.

A construção dessa constatação começou quando eu, na Universidade, estava iniciando minha monografia, e meu “orientador” me apresentou uma lista de livros e autores que eu deveria ler para ficar sabendo do assunto que eu teria que desenvolver.

Êpa! Peraí! Se eu já tenho o assunto que eu mesmo escolhi, se já estou em campo comprovando e conhecendo os fatos que devo levantar e os que não devo. Se estou aprendendo com o fazer, com o ouvir as pessoas que viveram o fato. De que me serviria ler outros sujeitos que passaram pelas mesmas experiências que estou passando agora? Copiá-los? Seguir caminhos distintos somente porque um outro já vivenciou aquilo?
Não! Absolutamente não! Não quero copiar e nem evitar caminhos coincidentemente já percorridos. Não abro mão de viver essa minha nova realidade e oferecer-lhes a minha visão. A não ser que a regra seja de não se poder fazer observações e conclusões diversas das já estabelecidas como verdade...

E, fugindo cotidianamente dessas regras acadêmicas engessantes, me formei.

Mais tarde, já lecionando, sempre de uma maneira própria, criativa, interagindo com os alunos, explorando o seu potencial, trazendo para dentro da sala as experiências vividas por cada um, vieram me acusar de estar copiando Paulo Freire. Ora bolas!

Para fugir disso, fui tentar explorar a formação psicológica e o meio sociológico do aluno, e começaram a achar que eu estava lendo Vigotsky demais...

Quando, eu, instintivamente respondia à uma pergunta com outra mais esclarecedora ainda, fazendo o interlocutor repensar suas dúvidas, diziam que eu estava querendo imitar Sócrates. Carái Véi!!!!!

Aí, já inserido no meio acadêmico, seguindo a moda e a nova ordem mundial, virei eco-louco. E estava eu tentando me filiar à uma ONG ambientalista, quando eu vi na TV a Giselle Bintchem pedindo pra eu fazer xixi no box, tomando banho... Caraca!!! Tá me pedindo uma coisa que eu sempre fiz desde garotinho em Campos/RJ...

Então, apavorado larguei a Universidade e fugi para a música. E comprei um piano. E comecei a tocar de ouvido, mas com as mãos. E não é que um sujeito, ao me ouvir tocando, me confidenciou que minhas notas lembravam Guilherme Arantes. Aí foi a gota dágua!!! Chega!!!

Como posso ser eu mesmo? Onde reside o espaço da liberdade de se poder criar, de se ter autenticidade, mesmo que repetindo, ou tangenciando que seja, feitos já realizados por outros, por onde eu possa caminhar?

Quer saber? Vou continuar a criar meu próprio fazer e meu próprio ser. E vocês... que fiquem a vontade para me rotular, para me classificar, desclassificar, comparar, criticar...

Quer saber também? Daqui para frente não uso mais as “aspas” em frases. Não sou mais refém de frases, de provérbios, de pensamentos que não tive a oportunidade de montá-los antes daqueles que me antecederam.

Eu sou eu! Eu sou único! Eu sou o velho! Eu sou o novo!

Mauro Zurita - 2015