sexta-feira, 21 de março de 2008

Reciclando nossos conceitos


Não se falam dos custos de produção do plástico. Mas estou cansado de ouvir dizer que o plástico demora 300 anos, ou mais sei lá, para se decompor. Graças a Deus que é dessa forma, senão as instalações hidráulicas e elétricas que fiz em minha casa teriam que ser refeitas periodicamente.

A garrafa "PET" tem sido usada como símbolo do preço negativo do "progresso". E dessa forma queremos aproveitá-las para tudo. Até árvore de natal ensinam a fazer, com elas. Só que essas árvores de natal vão ser postas lá nas pracinhas das favelas e não na lagoa Rodrigo de Freitas. E esquecemos que o PET, além de viabilizar economicamente o transporte de produtos, não produz "chorume", não contamina o solo, não emite gazes, não envenena os peixes, não assoreia as coleções hídricas etc... da forma que imaginamos os outros lixos. Mas basta poluir o visual e pronto! É tudo o que a sociedade não quer ver...

Eu não compraria um armário duplex em madeira aglomerada. Pago mais caro porém prefiro um armário em mogno ou imbuia e se possível maciço. Da mesma forma eu não construiria o telhado de minha casa com madeira de eucalyptus, mesmo tratada. Prefiro, ainda, não arriscar e usar a maçaranduba.

Eu não compro, na feira ou no mercado, aquele tomate nanico e cheio de pintas pretas. Prefiro os maiores, durinhos, brilhosos e sem manchas, provavelmente resultado do intensivo uso de agrotóxicos.

Eu continuo culpando meus alunos pelo desperdício do uso de papel escolar (oriundos de árvores plantadas) e mostrando a eles como reciclá-lo, ao passo que fecho os olhos para os desusos que se verificam em nosso latifúndios e em nossas florestas.

Eu não falo, porque não percebo, que os focos de fumaça dos fogões a lenha dos lares rurais e sub-urbanos de nosso país, aumentam numa relação direta com o aumento do preço do gás de cozinha e com o consumo de lenha nativa.

A gente, volta e meia, conta pros nosso alunos a estorinha do passarinho que tenta apagar o incêndio na floresta fazendo a sua parte independente dos outros e dos resultados alcançados. Caramba! Que exemplo de impropriedade, ignorância, individualidade e falta de feedback que estamos dando para eles!!!

Eu me culpo e culpo meu pai por destruir a camada de ozônio, por continuar usando aquela geladeira e o ar condicionado velhos que deixam escapar o CFC, sem que se tenha comprovação científica dessa destruição, e assim contribuo para fortalecer o imperialismo norte-hemisferiano.

Eu me presto a incentivar os órgãos ambientais em transformar, da noite pro dia, meus compatriotas em criminosos ambientais por não encontrem meios e modos de sobreviver de outra forma, mesmo que eu esteja me prestando também a conservar nossos recursos naturais produtivos para que os povos ricos possam usurpar-nos.

Feita essa coleta, que tal fazermos uma verdadeira reciclagem???

Mauro Zurita Fernandes
Geógrafo